Doença do cigarro será 3ª maior causa de mortes em 2020

Doença do cigarro será 3ª maior causa de mortes em 2020
smoking

Silenciosa e
incurável, DPOC provoca diminuição progressiva da capacidade respiratória;
estima-se que em Londrina 30 mil pessoas tenham a doença

 



As restrições à
publicidade e aos locais de uso do cigarro até conseguiram reduzir o número de
fumantes no País, segundo o Ministério da Saúde (MS). A quantidade de pessoas
doentes por causa do cigarro, no entanto, continua crescendo. Isso porque
algumas doenças surgem mesmo depois que o fumante abandona o vício, como a
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que, segundo estimativas de
pesquisadores, em 2020 será a terceira maior causa de morte no mundo, atrás
apenas das doenças cardiovasculares e neurológicas.

 

Segundo dados do MS, a DPOC mata cerca de cem pessoas por dia no Brasil.
“A DPOC provoca uma diminuição progressiva da capacidade respiratória
causada de duas formas: pela obstrução dos alvéolos pulmonares, no caso de
enfisema, e dos brônquios, no caso de bronquite. Normalmente, ocorrem os dois
tipos ao mesmo tempo”, explica o pneumologista e professor da Universidade
Estadual de Londrina (UEL), Alcindo Cerci Nero.

Um levantamento feito pelo especialista mostra que, na última década, a doença
foi a quinta maior causa de internação no Sistema Único de Saúde (SUS) entre os
maiores de 40 anos, com cerca de 200 mil hospitalizações por ano. Apesar de
pouco conhecida pela população, a DPOC acomete aproximadamente 11 milhões de
brasileiros, das quais, estima-se, 70% permanecem não diagnosticadas. Segundo
Nero, com base nos dados de prevalência, é possível estimar que, só em
Londrina, 30 mil pessoas tenham a doença.

 

A ocorrência da DPOC na população tem aumentado, segundo o pneumologista, por
ser esta uma doença crônica, que evolui silenciosamente e não tem cura.
“Mesmo depois que a pessoa deixa de fumar, ela pode ter o problema.
Depende de quanto ela fumou e por quanto tempo”, explica. O especialista
afirma que, apesar de não ser a única causa, o tabagismo é o principal responsável
pela doença. “A DPOC depende sempre de um agente externo: poluição, fumaça
do fogão à lenha, da queima de biomassa. Mas quase sempre é o cigarro”,
afirma. 

O tratamento da DPOC consegue estabilizar o quadro do paciente, evitando o
agravamento e prolongando o tempo de vida. Por isso, é importante que o
diagnóstico seja feito no início da doença. Os sintomas iniciais são tosse,
falta de ar, chiado no peito e cansaço, desconfortos que a maior parte dos
fumantes costuma ignorar. “Sintomas mais específicos, como a insuficiência
respiratória, só vão surgir no estado avançado da doença”, conta Nero.

SOFRIMENTO 


O aposentado Artur
de Oliveira passou 60 dos seus 76 anos fumando. “Eram dois maços por dia
e, dependendo do dia, não era suficiente”, conta. Apesar de receber
alertas ao longo de toda a vida, ele nunca se preocupou com a possibilidade de
uma morte precoce por conta do cigarro. “Não tinha medo de morrer. O que
começou a me preocupar foi o sofrimento que o cigarro causa.” E o
sofrimento dele começou há 20 anos, quando a respiração ficou muito
comprometida por causa da DPOC. “Há três anos, quando eu ainda fumava, já
estava dependendo de oxigênio em alguns momentos. Não conseguia andar da minha
casa até a ambulância do Samu, parada na rua.”

 

Foi quando ele teve que parar com o cigarro para não morrer. Oliveira iniciou o
tratamento com medicamentos que o ajudaram a ter um pouco mais de qualidade de
vida. Ainda assim, o fôlego é insuficiente até para as atividades mais
rotineiras. “De uns dois anos para cá, minha mulher me ajudava a tomar
banho, mas ela se foi. Agora, que sou sozinho, quando está frio, tem dias que
eu não tomo banho, porque falta ar”, conta o aposentado. 

DETERMINAÇÃO

 

A jornalista Telma
Elorza fumou durante 31 anos, dos 18 aos 49 anos de idade, e só teve motivação
suficiente para parar quando viu um grande amigo perder uma das pernas por
causa de uma trombose, que teve como uma das causas o cigarro. “Soube que
haviam grupos de apoio nos postos de saúde e um programa de quatro sessões
semanais. Passei por avaliação médica e psicológica, participei das sessões e,
a partir da terceira, recebi gratuitamente adesivos e bupropiona”, conta.

 

Hoje, há três anos sem fumar, Telma garante que, apesar de conviver com muitos
fumantes, nunca teve recaídas. “Já tive cigarro nas mãos e não fumei.
Raramente, bate uma vontade, mas passa.” Para ela, é a determinação do
fumante que define se o vício vai ser superado ou não. “Se a pessoa não
quiser parar de verdade, não tem tratamento que dê jeito. Eu decidi que ia
parar e parei.”

 

Juliana Gonçalves

Especial para a
FOLHA

Folha de Londrina

29/08/2016



90% dos ex-fumantes têm recaída

Quem quer deixar o
cigarro, encontra diferentes opções de tratamento, inclusive pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), mas pouca gente consegue a remissão definitiva

 

Quem quer deixar o
cigarro, encontra diferentes opções de tratamento, inclusive pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), mas pouca gente consegue a remissão definitiva. Por isso, o
conselho dos médicos é não dar o primeiro trago. “Os programas de tratamento
de tabagismo até têm um bom índice de sucesso imediato, mas ao longo do tempo
só 10% dos ex-fumantes conseguem manter. Na maioria dos casos, eles sofrem
recaídas, às vezes anos depois”, afirma o cardiologista Ricardo José
Rodrigues.

 

Os muitos prejuízos causados pelo cigarro todo fumante já conhece. O equívoco
de quase todos eles ainda está em achar que vai ser capaz de parar de fumar
quando achar necessário. “O grande problema está na adolescência, que é
quando a maioria começa a fumar. Depois que começa, é muito difícil
parar”, garante o especialista. 

Os tratamentos mais comuns para o tabagismo, segundo Rodrigues, incluem três
diferentes recursos: a vareniclina, a reposição de nicotina e o antidepressivo
bupropiona. “A vareniclina é um medicamento oral que, para o cérebro,
imita a nicotina. A pessoa tem um estímulo, como o da nicotina, mas não tão
intenso e sem levar à dependência física”, explica o cardiologista.

 

A terapia de
reposição de nicotina mais comum é feita através de adesivos de nicotina, mas
também já existem no mercado chicletes, pastilhas e sprays nasal de nicotina.
“Esse método lança no organismo a quantidade de nicotina que ele está
acostumado a receber através do cigarro, mas vai diminuindo gradualmente”,
conta.

 

A bupropiona passou a ser utilizada no tratamento de fumantes depois que se
notou que, como efeito colateral, ele amenizava os sintomas da abstinência do
tabaco. “Ele aumenta a concentração de serotonina, noradrenalina e
dopamina, diminuindo a ansiedade e a angústia e simulando a sensação de prazer
da nicotina”, esclarece o especialista. 

Segundo ele, a escolha do tratamento do tabagismo deve ser individualizada, de
acordo com o grau de subordinação ao cigarro de cada paciente. “Quando a
dependência é muito forte, é necessária a terapia tríplice, que combina
vareniclina, adesivo e bupropiona. Pode ser preciso até um acompanhamento
psicológico ou psiquiátrico”, afirma.(J.G.)

em frente à clínica

Estacionamento parceiro

desconto especial para pacientes do centro do coração