Cardiopatia congênita: 35% dos recém-nascidos morrem
O coração pode chegar a pulsar forte por amor, mas muito antes do nascimento enfraquecer, descompassar e até morrer. E é preciso estar atento com a saúde deste órgão desde a gestação dos bebês. Neste 12 de junho, dia dos apaixonados, é uma data especial de conscientização da cardiopatia congênita. A doença afeta anualmente 130 milhões de recém-nascidos no mundo e, no Brasil, estimativa apresentada no último Congresso Brasileiro de Cirurgia Cardiovascular aponta para o nascimento de 21 mil crianças cardiopatas por ano no País, isto significa que a cada 100 bebês, um nasce com alguma anomalia estrutural do coração.
A cardiopatia congênita é a terceira causa de mortalidade infantil no período neonatal (até 28 dias). O levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCC) aponta que 35% das crianças que precisam de atendimento especializado em cardiopatia congênita morrem na fila de espera por cirurgias. A entidade defende que a metade das mortes nesta fase poderia ser evitada se as crianças fossem atendidas com tempo hábil de tratamento.
De acordo com a SBCC, o Brasil possui apenas 20 centros capacitados para realizar procedimentos cirúrgicos na área. O número é considerado muito aquém da necessidade do País. A entidade recomenda que cada Estado mantenha pelo menos um centro especializado com no mínimo dois cirurgiões, que atendam qualquer tipo de complexidade e pacientes de todas as idades.
Estudos realizados pela SBCC apontam que o número oficial de óbitos referentes às cardiopatias congênitas é inferior a realidade. Isto acontece porque muitos recém-nascidos deixam os hospitais em bom estado, mas regridem em casa e acabam falecendo, sem que os registros tragam a verdadeira causa e, muitas vezes, sem que os pais saibam da anomalia congênita.
Doença é a terceira causa de mortalidade no período neonatal. A falta de diagnóstico precoce e de centros capacitados agravam a situação
Diagnóstico precoce
Para aumentar as chances de sobrevivência destes bebês, o diagnóstico precoce do problema é considerado imprescindível. ””O desafio maior é descobrir a cardiopatia antes do nascimento””, enfatiza a cardiologista pediátrica Márcia Thomson. ””Meu objetivo de vida é que não nasça nenhuma criança em Londrina sem o diagnóstico pré-natal, estamos lutando para isso. Quando descobrimos a cardiopatia antes, o bebê tem mais chances de sobreviver ””.
Na 25ª semana de gravidez, a gestante deve se submeter ao ecocardiograma fetal, o ultrassom do coração do bebê. Este é o exame que identifica a presença de algum tipo de cardiopatia. O Sistema Único de Saúde (SUS) só disponibiliza este ultrassom quando o feto apresenta algum tipo de malformação ou quando a gestante possui diabetes, cardiopatia, hipertensão arterial, lupus ou tem mais de 35 anos de idade.
Identificar a deformidade antes do parto é importante para que a equipe médica possa se preparar e dar suporte ao bebê na hora do nascimento. Na maioria dos casos é preciso deixar uma UTI neonatal disponível. Márcia explica que há situações em que é necessário submeter a criança a uma cirurgia logo após parto. ””Para isso é preciso ter um centro cirúrgico com equipamentos e profissionais preparados para realizar o procedimento com segurança”” ressalta. A médica acrescenta que além da equipe médica, o diagnóstico precoce também permite que a família se prepare emocionalmente para receber um bebê com cardiopatia congênita. ””Os pais precisam se acostumar com a ideia de não sair do hospital com o bebê nos braços””, comenta.
A maioria das cardiopatias graves se manifesta logo após o nascimento, explica a médica, e os casos menos graves podem aparecer até mesmo na idade adulta, embora a maior parte do diagnóstico seja realizado ainda na infância. A incidência de cardiopatia congênita na população é de 1%, destas pessoas 30% têm problemas cardíacos graves e precisam de diagnóstico intrauterino. Apesar da gravidade do problema, os especialistas afirmam que a criança pode levar uma vida normal, se a cirurgia for feita na época certa. ””Elas podem brincar, correr e fazer esportes, apenas não recomendamos a prática de atividades competitivas e lembramos que o acompanhamento com cardiologista deve ser feito durante toda a vida””, complementa Márcia.
Michelle Aligleri
Reportagem Local
Folha de Londrina
10/06/2013