Estudo sugere nova meta para pressão alta
Pesquisadores apontam que redução de controle de hipertensos acima de 50 anos para 12 por 9 pode diminuir risco de AVC e infarto em 30%
Saúde de hipertensos que controlaram a pressão abaixo de 12 por 9 melhorou consideravelmente
Um novo estudo financiado pelo governo americano abriu novas discussões no que se refere à meta para controle da pressão arterial em pacientes hipertensos. Os resultados ainda são preliminares, mas já estão ganhando a atenção da classe médica.
Os pesquisadores apontam que pacientes com pressão alta, acima de 50 anos e que têm um fator de risco para um evento cardiovascular, devem manter a pressão arterial até 12 por 9. Com essa medida, os riscos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de infarto do miocárdio são reduzidos em aproximadamente 30%, de acordo com o estudo.
Atualmente, a diretriz brasileira recomenda um controle da pressão abaixo de 14 por 9 para maior parte dos hipertensos, que não têm doença cardiovascular estabelecida. Para aqueles que têm diabetes ou doença renal crônica associada, essa meta é de 13 por 8.
O médico cardiologista em Londrina Laercio Uemura esclarece, no entanto, que a definição para hipertensão não mudou. “As pessoas que são consideradas hipertensas é porque apresentam uma pressão maior ou igual a 14 por 9. O que o estudo mostra é que hipertensos que têm maior risco, quando medicados, deverão atingir uma pressão de até 12 por 9”, explica.
De acordo com ele, para os pacientes, a publicação desse estudo refletirá possivelmente em um aumento no uso de remédios. “Na pesquisa, quem tinha esse controle menor de 14, em média, usava dois tipos de medicamentos e aqueles com controle até 12, de três a quatro”, afirma Uemura, ressaltando porém, que não são novas drogas. “São os mesmos medicamentos que usamos hoje, testados e aprovados”, completa.
A nefrologista Frida Liane Plavnik, diretora científica da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), diz que ainda há muitos pontos a serem detalhados em relação a esse estudo e, por isso, aponta a necessidade de se ter cautela.
“O estudo tem um impacto importante e interessante, mas temos que esperar a publicação de mais dados para poder fazer uma avaliação crítica. Temos muitos questionamentos, especialmente em relação ao uso de mais medicamentos. Por exemplo, será que todos os pacientes realmente precisam de mais remédios? Qual será o grau de efeito colateral?”, indaga, enfatizando a individualidade de cada paciente.
Vale lembrar, ainda, que essa recomendação sugerida pelo estudo não é oficializada e, mesmo que fosse, não excluiria o julgamento e decisão clínica de acordo com as características e circunstâncias de cada paciente.
ESTUDO
O estudo foi iniciado em 2013 com prazo para ser concluído em 2018. No entanto, foi interrompido diante desses primeiros resultados e o que se espera é que dados detalhados sejam divulgados em breve.
Uemura ressalta que o estudo segue em andamento com outras linhas, como por exemplo, se o controle intensivo da pressão arterial (abaixo de 12), diminuiria também algumas alterações cognitivas.
Os pesquisadores acompanharam 9.300 adultos hipertensos com idade superior a 50 anos. Em linhas gerais, uma parte do grupo recebeu medicação para ajustar a pressão arterial até 14 por 9 e outro, para controle do limite máximo abaixo de 12.
Os resultados apontaram que a saúde pode melhorar consideravelmente nesses pacientes que controlaram abaixo de 12. “Sem dúvida, quando você consegue manter uma pressão mais baixa, o benefício é maior. O que esses pesquisadores queriam era comprovar isso”, completa Frida, reforçando que o estudo não contemplou pacientes diabéticos, que formam uma grande população no País e nem aqueles com histórico prévio de AVC.
Micaela Orikasa
Reportagem Local
Folha de Londrina
28/09/2015
Foto: Ricardo Chicarelli