Depressão aumenta risco de infarto

Depressão aumenta risco de infarto
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Estudos demonstram que doença provoca deposição de placas de gordura nas artérias

 

Sintomas depressivos como tristeza, pessimismo e desânimo aumentam em 2,67 vezes a chance do paciente apresentar ataque cardíaco

As emoções são ‘processadas’ pelo cérebro, mas é o coração que pode acabar penalizado. Pesquisadores descobriram que a saúde do coração também está intimamente relacionada ao quadro emocional do paciente. Estudos apontaram que a depressão é mais do que um problema de humor, ela é uma doença inflamatória que tem influência direta nas doenças coronarianas, especialmente, em infartos.

 

 

 

De acordo com o médico cardiologista Ricardo Rodrigues, um estudo canadense realizado com 14 mil pacientes de 52 países identificou que o fator psicossocial – que inclui a depressão e o estresse crônico ou agudo – é a terceira causa de infarto, ficando atrás somente do colesterol alto e do tabagismo. Os estudiosos concluíram que emoções negativas aumentam em 2,67 vezes a chance do paciente apresentar infarto. “Hoje os estudos comprovam que a depressão está relacionada com a deposição de placas de gordura nas artérias”, salienta o cardiologista.

 

 

 

Pesquisas apontam que os pacientes com depressão possuem elevados níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Em excesso, esta substância provoca um desgaste em todo o organismo e processos inflamatórios, que podem provocar lesão e formação de placa nos vasos sanguíneos, contribuindo para o infarto e até o AVC (acidente vascular cerebral).

 

 

 

Rodrigues explica que a depressão é considerada uma doença inflamatória assim como a ateriosclerose (acúmulo de gordura nas artérias), que é considerada a principal causa de infarto, sendo assim o quadro depressivo deve ser tratado como fator de risco do infarto. “Podemos afirmar que há aumento de ocorrência de infartos em pessoas com quadros de estresse e depressão”, destaca o médico. Os estudos sobre esta correlação vem ganhando cada vez mais espaço entre os cientistas.

 

 

 

Algumas pesquisas também revelaram que, em até um ano após o infarto, 90% das pessoas apresentam algum distúrbio de humor. “O que precisamos descobrir é a incidência de pacientes que apresentam distúrbio de humor antes do infarto”, destaca o cardiologista.

 

 

Oxidação

 

 

 

O médico psiquiatra Heber Odebrecht Vargas explica que as doenças cardiológicas possuem os mesmos marcadores inflamatórios encontrados na depressão. “Toda vez que o corpo é submetido a doenças crônicas – como o estresse e a depressão – ele precisa produzir energia, e para isto lança mão de substâncias antioxidantes. No entanto, as doenças crônicas provocam a oxidação do organismo, e inicia-se então uma reação em cascata que provoca o estresse oxidativo do organismo e desencadeia o aparecimento de doenças inflamatórias, como é o caso da ateriosclerose que provoca o infarto”, salienta.

 

 

 

Apesar de ser comprovada a ligação entre a depressão e as doenças coronarianas, Vargas considera complicado identificar a ordem delas. “Tanto a doença clínica pode causar depressão quanto ao contrário. As doenças aparecem por conta de uma somatória de fatores. Há situações que não conseguimos constatar qual delas surgiu primeiro”, reforça o psiquiatra. De acordo com ele, a pessoa que apresenta duas doenças inflamatórias simultâneas, como é o caso da cardiopatia e da depressão, tem um prognóstico pior e perde qualidade de vida.

 

 

 

Os sinais mais comuns da depressão são tristeza, pessimismo, desânimo, insônia e falta de apetite. Diante de dois ou mais sintomas, os especialistas recomendam a busca de tratamento médico. Já em casos de infarto, os principais sintomas são falta de ar, suor, enjoo e dor no estômago. Ao primeiro indício do ataque cardíaco, a vítima deve ser encaminhada com urgência ao hospital (veja mais no infográfico).

 

 

Tratamento deve ir além de medicamentos

Benefícios da prática de esportes não se limitam à questão física
Ter alimentação saudável, praticar atividade física e não fumar. Este é o tripé de ações responsável por prevenir inúmeras doenças, em especial aquelas ligadas ao sistema cardiovascular. Os benefícios da prática de esportes não se limitam à questão física, ela também é indicada para prevenir a depressão. “A atividade física tem uma ação antioxidante e este é um fator protetor. Quem tem depressão e começa a fazer exercício vê uma melhora significativa no seu quadro”, salienta o médico psiquiatra Heber Odebrecht Vargas. Segundo ele, atividades que envolvem lazer e espiritualidade melhoram a qualidade de vida e combatem a depressão.
 

 

O psiquiatra defende que a qualidade de vida do paciente seja trabalhada por todas as especialidades médicas, em especial quando o paciente apresenta sintomas depressivos. “A pessoa precisa ser incentivada a sair da sua zona de conforto e cuidar de si. Praticar uma hora de exercício por dia atenua os fatores estressores da vida moderna”, garante Vargas. Mas segundo ele, a mudança precisa partir do próprio paciente. Vargas enfatiza que limitar o tratamento apenas ao uso do medicamento antidepressivo nem sempre resolve o problema.

 

Além de mudar hábitos de vida e tomar a medicação indicada pelo médico, o psiquiatra salienta que é fundamental que o paciente avalie as situações de estresse que vive no dia a dia. “Não devemos nos permitir ficar estressados com algumas coisas, e o mais importante: não podemos ficar ”ruminando” mágoas”, destaca. Vargas acrescenta que é preciso dar um enfoque diferente para as situações difíceis e não deixar que elas sejam a direção da vida. “Oriento meus pacientes a não sofrerem por situações que não podem ser resolvidas e que busquem uma conduta ativa para melhorar as próprias condições de saúde”, aponta. Conforme ele, ter uma vida pró ativa, com momentos de lazer e saídas de casa, buscando atividades prazerosas são os primeiros e mais importantes passos para combater a depressão, e consequentemente evitar problemas cardíacos. (M.A.)
 

Depois do ataque, tristeza ainda maior

César Augusto
José de Mello: os cuidados com a saúde agora incluem visitas semestrais ao cardiologista e acompanhamento com psiquiatra
Durante 30 anos de sua vida, o aposentado José de Mello, de 72 anos, conviveu com crises de pânico. Os sintomas depressivos que acompanham a doença foram amenizados com os remédios de uso contínuo indicados pelo psiquiatra. Este foi o único problema de saúde do aposentado por vários anos. Dono de uma vida que sempre incluiu alimentação saudável, caminhadas regulares, e nada de álcool e fumo, Mello acreditava estar imune a outras doenças, especialmente àquelas que envolvem o coração.
 

 

No início de 2010, um aperto no peito derrubou sua autoconfiança. “Eu achava que estava tendo uma crise de pânico, mas não tinha certeza”, conta. A esposa dele, Guiomar Rozin de Mello, decidiu levá-lo para o hospital. O aposentado desmaiou no elevador do prédio e uma ambulância foi acionada pelos vizinhos. Logo que ele chegou ao hospital, o infarto foi diagnosticado. “Foi tudo muito rápido”, lembra. O que o aposentado não imaginava é que a depressão viria com muito mais força após o problema cardíaco.

 

 

em frente à clínica

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