Stress, risco iminente

Stress, risco iminente

Excesso de trabalho e responsabilidades somados à falta de atividades
físicas e momentos de lazer elevam riscos de doenças, em especial no coração

Fernanda Bressan

Equipe ACIL

 

Stress. A palavra é velha conhecida do mundo moderno e competitivo. Na
medida certa, ele traz benefícios e estimula a pessoa a produzir mais e melhor.
Mas, como diz a sabedoria popular, o que diferencia o remédio do veneno é a
dose. E muitos empresários estão perdendo o controle dessa dose.

Segundo o cardiologista Ricardo Rodrigues, o stress já é hoje a terceira
causa de infarto e derrame, perdendo apenas para o colesterol alto (primeiro
colocado) e tabagismo (segundo no ranking). Uma bomba-relógio que tem passado
despercebida por muitos homens e mulheres que estão à frente dos negócios. “É
impossível viver sem stress. O perigoso é aquele stress em que a demanda é
maior que a oferta e o organismo começa a produzir noradrenalina, adrenalina,
corticoide, há um aumento da taxa de glicose e queda na resistência
imunológica”, aponta o especialista.

 

Ricardo Rodrigues diz que há vários estudos sobre stress no trabalho e
destaca que eles incluem outros pontos de risco, como fumo e sedentarismo. Como
o ser humano é resultado de variáveis, fica difícil isolar um único fator no
desencadeamento de doenças. “Mas a relação entre stress, hipertensão, tabagismo
e maus hábitos alimentares é frequente”, pontua. Um exemplo, segundo ele, está
nas mulheres em posição de comando. “Há um aumento do tabagismo nessas
pessoas”, atesta. Combinados, esses fatores ratificam a afirmação de que o
stress no trabalho aumenta a mortalidade.

 

Um dos grandes problemas enfrentados por empresários, na avaliação de
Rodrigues, leva o nome de solidão. Mas não aquela solidão de quem vive sozinho;
é a solidão de quem precisa decidir sozinho. “O executivo tem que tomar
decisões que muitas vezes são só dele. Dessa pressão podem surgir crises de
ansiedade e, para aliviar, há aumento no consumo de álcool e cigarro”, explica.
A falta de equilíbrio do tempo é outro fator determinante que acaba com a
qualidade de vida. Horas de sono e lazer são “roubadas” pelo excesso de
trabalho. “O certo é aplicar o 3 x 8. Ter 8 horas dedicadas ao trabalho, 8
horas de sono e 8 horas para outras atividades”, diz, categórico.

 

Quem também alerta para a importância do equilíbrio no combate ao stress
é a psicóloga Elsie Silva. Para ela, é importante saber administrar os
diferentes papéis que desempenhamos. “Quando se investe demais em um deles,
como o papel de empresário, os outros ficam em débito”, atesta.

 

Elsie reforça que stress é normal e melhora o desempenho cognitivo.
Contudo, chama a atenção para a forma como cada um vive e usa esse stress.
“Algumas pessoas ativam essa reação criando ‘inimigos imaginários’, sofrendo
por antecedência, criando ‘problemas’, aumentando as preocupações. Outros
sofrem grandes pressões externas como longas jornadas de trabalho, competição
acirrada, pouca autonomia, muita responsabilidade, dificuldade em equilibrar a
responsabilidade e o prazer.”

 

Dessa rotina desequilibrada, diz a psicóloga, surgem problemas e doenças
como mau humor, insônia, baixa produtividade, transtornos de ansiedade,
depressão, distúrbio do sono. A lista é grande e é reforçada pelo cardiologista.
Ricardo Rodrigues alerta para um problema que pode vir do stress: a síndrome de
Burnout. “Ela decorre do esgotamento físico vindo do excesso de trabalho e se
assemelha aos sinais de depressão como diminuição da libido, perda ou ganho de
peso, melancolia, intolerância, dificuldade de concentração e insônia”, cita. A
solução, muitas vezes, só vem com o uso de antidepressivos.

 

Rodrigues alerta que atividades corriqueiras do mundo empresarial, como
o almoço de negócios, são um perigo para a saúde. “Almoço é almoço e negócio é
negócio. A pessoa acaba até comendo mais do que precisa e há até casos de
hepatite alcoólica porque a pessoa começa a ir a muitos eventos sociais.”

 

“Um dos maiores problemas do empresário é a solidão. Não a solidão
de quem vive sozinho, mas a de quem decide sozinho.”

 

O que te dá prazer?

 

Responder a essa pergunta pode parecer fácil. Mas não é o que vem
acontecendo na prática. A psicóloga Elsie Silva afirma que a roda viva em que
muitos empresários entraram tem complicado essa avaliação. “Tenho sentido a
dificuldade, na rotina do consultório, quando pergunto a adultos
sobrecarregados: ‘O que lhes dá prazer?’ Muito precisam de várias sessões para
conseguir me responder”, alerta. A pergunta também pode ser estendida a quem lê
essa matéria. “E você, o que te dá prazer?”, instiga a psicóloga.

 

O cardiologista fala da dificuldade em se definir o conceito de
qualidade de vida por parte das pessoas. “O que observo é que alguns acham que
é trabalhar bastante. O problema é que o corpo não pensa assim, ele sente”,
destaca. Ricardo Rodrigues indica um caminho para reencontrar o equilíbrio. “É
preciso estar o mais perto da natureza. Andar é melhor que ir de carro, é
preciso comer frutas e verduras, fazer exercícios. Estamos muito longe do 3 x
8”, analisa. Ele exemplifica com dados o resultado de uma vida saudável. “O uso
de remédios reduz o colesterol entre 30 e 40%; fazer exercícios diariamente
reduz em 50%; comer duas porções de frutas e verduras reduz 30%, parar de
fumar, 50%. As coisas se somam e levam à saúde.”

 

Para quem sempre diz não ter tempo para praticar atividades físicas,
Rodrigues avisa: quem faz exercícios tem mais capacidade de decisão, agilidade
e rendimento, além da diminuição do stress. Ou seja, o tempo “gasto” na atividade
é multiplicado no trabalho. “Esse desdém pela qualidade de vida tem feito com
que encontremos pessoas com doença aos 40 anos”, alerta Rodrigues.

 

Para ele, basta queimar 2 mil calorias por semana, divididas em
atividades diárias com duração de 30 minutos, para elevar a saúde do coração e
combater o stress. “Um MET é a unidade utilizada para medir a capacidade do
gasto energético da pessoa dormindo profundamente. Quando ela atinge 10 METs,
diminui em até 70% a mortalidade cardiovascular e em 30% a mortalidade global”,
contabiliza. Para quem não conhece, o MET é um equivalente metabólico que
representa o consumo de oxigênio requerido em repouso. E para acelerá-lo é
preciso praticar atividades físicas.

Trabalhar e viver

Administrar seis restaurantes e uma lanchonete não tira o sono do
empresário Enio Luiz Sehn Junior. Ele cresceu no mundo dos negócios, vendo o
pai à frente da rede Dá Licença, e também praticando atividades físicas. A
combinação vivida “desde moleque”, como ele próprio define, trouxe equilíbrio
para trabalhar sem deixar de viver. Corrida, natação, futebol e pilates dividem
a agenda com as atividades no escritório. “Trabalhamos muito com a cabeça e, se
não tiver escape, não tem como. O meu lazer é o esporte.”

 

Enio Junior diz ter encontrado espaço para atividades importantes na
rotina, inclusive consegue por em prática a regra do 3 x 8 indicada por Ricardo
Rodrigues. “Exercício é qualidade de vida, não podemos exagerar no traba

em frente à clínica

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