Sal, o vilão da hipertensão

Consumo exagerado traz riscos à saúde; alecrim, manjericão, entre outras ervas, são alternativas, já que realçam o sabor dos alimentos
Utilizado para dar sabor aos alimentos, o sal pode, se consumido de maneira desacerbada, fazer mal à saúde. No caso da hipertensão arterial, a substância é a principal vilã e o gosto que pode oferecer é o do perigo. Isso porque ela aumenta o volume de sangue dentro das veias e artérias, ampliando a pressão arterial por conta da propriedade osmótica do cloreto de sódio. Este é o principal componente do condimento, que leva à retenção de líquidos no corpo.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda a ingestão de no máximo dois gramas de sódio por dia ou cinco gramas de sal, o equivalente a uma colher de chá. “Muitas vezes nos esquecemos dos alimentos industrializados, como os embutidos, enlatados, temperos e conservantes. Eles carregam o sódio de maneira ‘invisível”, adverte a nutricionista Lilian Lourenço, de Londrina. Entre os alimentos prejudiciais para quem tem pressão alta, por conter alto teor de sódio, estão os temperos prontos, sopas e macarrões instantâneos, queijos, fast-food, frituras e gorduras hidrogenada e saturada.
A hipertensão é caracterizada quando a pressão arterial, após ser medida várias vezes, é igual ou superior a 140 por 90. “É a pressão com que o sangue circula dentro dos vasos. A hipertensão é quando força os vasos, com pressão acima do normal. O diagnóstico vem depois de três medidas, em dias diferentes, com a pessoa em repouso, sem ela ter fumado, comido ou corrido”, explica o cardiologista londrinense Ricardo Rodrigues. A pressão para ser considerada ótima precisar estar em 120 por 80.
CONSEQUÊNCIAS GRAVES
A doença pode trazer consequências graves, principalmente para cinco órgãos: cérebro, coração, rim, olhos e artérias. “No cérebro aumentam as chances de derrame e infarto. Para o coração pode levar à angina, infarto. No rim o paciente pode desenvolver insuficiência renal. Nos olhos pode levar ao desenvolvimento de glaucoma, retinopatia. Já nas artérias reduz a circulação de sangue para os órgãos”, exemplifica o especialista, do Centro do Coração de Londrina. Na sexta-feira (26) foi celebrado o dia nacional de combate à hipertensão arterial.
O tratamento pode ser farmacológico, porém são necessárias outras intervenções, como perda de peso, prática diária de exercícios físicos com pelo menos 30 minutos de duração, evitar o estresse e comer bem. “Deve-se agregar o consumo de fibras, frutas, vegetais, sementes e cereais. Quanto mais natural melhor. A fibra auxilia tanto no controle da taxa de açúcar como na presença de gordura em veias e artérias, evita a diabetes e a aterosclerose. Existem ainda alimentos com ação vasodilatante, que são os de cor roxa: beterraba, uva, amora, ameixa, cebola roxa”, orienta Lourenço. “O chocolate também é vasodilatador, em pó ou barra, porém com maior teor de cacau, entre 70% e 85%”, completa.
ALTERNATIVAS
Como alternativas ao sal aparecem o limão, alecrim e manjericão, entre outras ervas, que realçam o sabor dos alimentos. Já os medicamentos costumam ser inibidores e sua indicação depende do quanto a pressão está alterada, como a partir da pressão 150 por nove. Os males cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente 1,2 milhão de mortes por ano no Brasil e em até 2025 o número de hipertensos nos países em desenvolvimento, como o caso Brasil, deverá crescer 80%, segundo estudo.
No Brasil existem atualmente cerca de 17 milhões de hipertensos. Milhares de pessoas com a pressão alta sequer sabem que estão com a doença, que é crônica e silenciosa. “A maioria dos hipertensos costuma não ter queixas, o que faz aumentar seu perigo. Alguns sinais para ficar atento são dor de cabeça, mal-estar, pois os sintomas são inespecíficos. É necessário procurar um médico, ter orientação correta e não se automedicar”, destaca o cardiologista Ricardo Rodrigues.
A orientação do cardiologista é medir a pressão arterial em pelo menos uma oportunidade na primeira infância; na adolescência de duas a três e a partir dos 20 anos de idade uma vez por ano. Ainda são fatores de risco para a hipertensão o sedentarismo, consumo abusivo de álcool, cigarro e diabetes.
HISTÓRICO FAMILIAR
O histórico familiar também interfere. Estima-se que aqueles cujo um dos pais é hipertenso apresentam 25% de chances de desenvolver a doença, enquanto que se o pai e a mãe têm pressão alta a probabilidade chega a 60%. “Quando se fala em hipertensão, 52% da chance são genéticas e 48% são ambiente, em que entra o estresse, pessoa obesa. Antigamente se falava muito da doença naquelas pessoas depois dos 50 anos. Mas hoje com 30, 35 anos já é comum. O número de jovens também tem sido cada vez mais crescente, ainda mais em Londrina, que é uma cidade universitária e com muitos fasts-foods”, aponta.
De acordo com a nutricionista Lilian Lourenço, a conscientização sobre o que se come e a qualidade de vida são determinantes para a saúde. “O paladar das pessoas anda bem alterado. Infelizmente quando há algum problema instalado é que a pessoa vai se alertar e tentar mudar o estilo de vida. Para evitar todos os males tem que buscar uma vida melhor, com alimentos mais saudáveis”, ressalta a profissional.
‘NÃO IA DESCOBRIR’
Com histórico de hipertensão arterial na família, por conta do pai, o professor de matemática Eugênio Yamaji, hoje com 54 anos, começou a fazer avaliação médica anual a partir dos 35 anos de idade, como forma de prevenção. Foi numa dessas consultas, quatro anos depois, que descobriu ter pressão alta. “Não sentia praticamente nada. Tinha algumas dores de cabeça, entretanto achava que era por falta de sono ou algo do tipo. Se dependesse de sintoma não ia descobrir”, relembra.
Justamente por já se cuidar ao longo do tempo, mudou pouco a alimentação, focando, a partir de então, na redução ainda maior da quantidade de sal consumida. “Minha esposa foi e é rigorosa nesta questão. Melhoramos, mas não foi nada radical. Procuramos comer mais saladas, frutas, verduras, legumes, e menos gordura. Não deixamos de, eventualmente, consumir embutidos ou de participar de confraternizações e comer os alimentos que estes espaços dispõe. O importante é não abusar”, considera.
Vivendo uma rotina intensa e em muitas ocasiões estressantes, por conta da realidade da sala de aula, Yamaji encontrou “válvulas de escape” para diminuir a tensão e ao mesmo tempo praticar atividades físicas. “Tento manter a calma, mas o estresse é algo que não tem como evitar. É como andar de carro pela cidade e achar que não vai encontrar trânsito”, compara. “Costumo jogar futebol uma vez por semana e de sábado e domingo beisebol e softbol. São exercícios que já praticava antes de saber que sou hipertenso. São maneiras de manter o condicionamento, relaxar, e são prazerosas. Me diverto, estou com os amigos, dou risada.”
Concomitante às práticas toma medicamentos receitados por especialista. Ao todo são três, sendo um para hipertensão duas vezes por dia; outro para arritmia, que teve ciência há dois anos; e o último para colesterol. “Meus exames estão todos dentro de padrão considerado bom. Quando fui diagnosticado com hipertensão e fui medicado, num momento inicial pareceu que era um doente. Mas graças a Deus fui diagnosticado cedo, tudo está sob controle e sei que isso está sujeito a qualquer pessoa. Como me cuido, consegui diminuir a probabilidade de um problema mais sério”, comemora.
Pedro Marconi – Grupo Folha
Folha de Londrina
29/04/2019
Fotos: Gina Mardones
Arte: InfoFolha