Prevenindo arritmias e mortes súbitas

Prevenindo arritmias e mortes súbitas
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Cerca de 20 milhões de
brasileiros sofrem com algum tipo de arritmia, que é grave e necessita de
acompanhamento médico

 

Em 2010 um candidato ao concurso público da Guarda
Municipal de Londrina morreu durante um teste de esforço físico, por morte
súbita. Esse tipo de óbito ocorre com muita frequência no Brasil. Estima-se que
320 mil brasileiros vêm a óbito anualmente por morte súbita e 20 milhões sofrem
com algum tipo de arritmia, que é grave e necessita de acompanhamento médico.
Foi para alertar sobre o problema que o 12 de novembro passou a ser o Dia
Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita.

Segundo o cardiologista Laércio Uemura, de Londrina, as arritmias
cardíacas são alterações elétricas que provocam modificações no ritmo do
coração. “A pessoa pode apresentar sintomas como taquicardia, palpitação,
cansaço, tontura, calafrios ou até desmaios”, declarou. No entanto, por
vezes ela é silenciosa e a morte súbita pode ser a primeira manifestação. Elas
podem ser causadas por estresse, consumo exagerado de álcool, cafeína, uso de
drogas, alguns tipos de medicamentos e enfermidades como doenças do músculo
cardíaco, infarto do miocárdio, hipertensão arterial, doenças da tireoide,
entre outras.

A reportagem passou por um check-up no Centro do Coração e realizou os exames
necessários para prevenir e identificar um possível problema. “Para o
diagnóstico de arritmia são avaliados a história clínica e os resultados dos
exames de eletrocardiograma”, explicou o médico. Ele apontou que o holter
– uma espécie de eletrocardiograma, só que de longa duração – é indicado quando
o paciente tem sintomas mais frequentes. Ele pode ficar com o paciente
registrando a frequência cardíaca de 24 horas a 72 horas, dependendo do caso.

“Se o paciente sente eventos de forma quinzenal ou mensal existe um
aparelho externo chamado looper. Que é um monitor de eventos. Ele fica com
eletrodos conectados ao corpo e dispara quando sente os sintomas. Esse dá para
ficar um tempo mais longo”, explicou. Uemura destacou que o teste
ergométrico e o ecocardiograma investigam a causa da arritmia. “O
ecocardiograma mede o tamanho, a função, o tamanho das cavidades cardíacas, a
função das válvulas e a espessura do músculo”, destacou.

Inicialmente, a reportagem realizou o ECG (eletrocardiograma) para avaliar a
atividade elétrica do coração, observando, assim, o ritmo, a quantidade e a
velocidade das batidas. Foram colocados eletrodos no peito, que captaram os
batimentos do coração e o gráfico desse variação do ritmo foi impresso para ser
avaliado pelo cardiologista.

Na sequência foi realizado um teste ergométrico, popularmente conhecido como
teste de esteira. Serve para a avaliação ampla do funcionamento cardiovascular,
quando submetido a esforço físico gradualmente crescente, em esteira rolante.
Por meio dele são observados os sintomas, os comportamentos da frequência
cardíaca, da pressão arterial e do eletrocardiograma antes, durante e após o
esforço. Esse teste não pode ser realizado quando há suspeita de infarto agudo
do miocárdio; angina do peito instável; insuficiência cardíaca descompensada;
miocardite e pericardite; e deve ser evitado durante a gravidez.

Outro exame importante para o diagnóstico de arritmias é o ecocardiograma, que
capta as ondas sonoras emitidas por todas as partes do coração. Os ecos são
transformados em imagem e exibidos em um monitor, permitindo ao médico analisar
todas as características do coração. Por meio dele é possível avaliar a
espessura da parede do coração, se o fluxo do sangue está normal ou se há algum
sopro, ou seja, quando alguma válvula cardíaca (temos quatro) está com o
orifício de passagem reduzido (estenose) ou quando ela não fecha direito e
deixa o sangue voltar (insuficiência).

Após avaliar os exames, o especialista disse à reportagem que os resultados
estavam bons e não foi constatada arritmia. A pressão arterial estava normal. O
ecocardiograma apontou um pequeno sopro benigno no coração, mas ele
tranquilizou informando que essa condição é congênita, está presente em 90% das
pessoas e não oferece riscos. Foi constatada também uma pequena dilatação da
aorta, que pode ser provocada por pressão alta ou por distúrbios do sono.
Uemura pediu mais um exame para acompanhar isso.

 

Vítor Ogawa

Reportagem Local

 

Ӄ uma das
cardiopatias mais temidas e atinge os mais jovens”

 

 

 

 

 

 

 

 

O cardiologista Laércio Uemura explicou que em
pacientes abaixo de 35 anos pode ocorrer a miocardite hipertrófica. “Às
vezes, em um exame clínico, o diagnóstico passa desapercebido e pode causar a
morte súbita. É uma das cardiopatias mais temidas e atinge os mais
jovens”, explicou. Segundo ele, existem várias doenças relacionadas ao músculo
cardíaco que podem atingir os mais jovens. “Teve um cardiologista em Londrina que
morreu dormindo porque teve uma doença do músculo do coração. Além das doenças
que dilatam o coração, existem doenças do sistema elétrico dele que também
causam morte súbita”, apontou. “Existem as arritmias benignas, que
não causam morte, e as mais graves”, elencou.

 

Do ponto de vista da morte súbita, Uemura explicou
que as mais temidas são as são as arritmias ventriculares, que saem da parte do
coração que bombeia o sangue. “Elas têm uma associação relacionada a uma
doença do músculo cardíaco (miocardiopatias) e foram as que causaram a morte de
pessoas como a do jogador do São Caetano Serginho, em 2004, durante uma partida
contra o São Paulo; e do comediante Mussum, em 1994.

PREVENÇÃO

O cardiologista explicou que a prevenção da arritmia é a mesma de todas as
doenças do coração. “É preciso fazer atividade física, controlar o peso,
ter bons hábitos alimentares, aferir a pressão com frequência, controlar a
diabetes, evitar cigarro e a ingesta de bebida alcoólica em excesso”,
enumerou.

Ele também apontou que existem as arritmias supra ventriculares. “O
coração é dividido em quatro cavidades. Existe uma arritmia que em geral é
menos grave, mas é muito associada ao AVC (acidente vascular cerebral), que é a
fibrilação atrial”, expôs. Esse tipo de arritmia tem várias causas e
aumenta com a idade. “Como a população está envelhecendo, essa arritmia
tem uma prevalência alta depois dos 65 anos. Trata-se de uma das principais
causas de isquemia, pois são coágulos que se formam no coração e depois se
desprendem. Ela pode ser evitada com o uso de anticoagulantes se for detectada
previamente. A tragédia maior é quando esse coágulo vai para o cérebro.”

TRATAMENTO

O tratamento de arritmias pode ser realizado com medicamentos, ablação por
cateter, implante de marca-passo ou do desfibrilador automático implantável. “Os
batimentos normais em repouso ficam entre 60 a 100 batimentos por minuto. As
frequências cardíacas acima de 100 chamamos de taquicardia. Abaixo de 60
chamamos de bradicardias. O marcapasso corrige a lentidão e é indicado nas
bradicardias. O desfibrilador é para prevenir a morte súbita, detectando as
arritmias mais graves ao mandar estímulo em uma frequência maior para assumir a
função. Se não der certo ele dá um choque. Esse desfibrilador tem ação de
marcapasso também”, detalhou.

Ele afirmou que os pacientes com marca passo e desfibrilador podem realizar
atividades físicas, mas não é recomendável que façam atividades em que haja
impacto que possa provocar danos ao equipamento. (V.O.)

 

Vitor Ogawa

Reportagem Local

Folha de Londrina

12/11/2018

Fotos: Saulo Ohara

em frente à clínica

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