Hipertensão arterial exige mudança de rotina

Hipertensão arterial exige mudança de rotina
roger

Na quinta-feira (26) será celebrado o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial. A data visa chamar atenção para a conscientização sobre a doença, que é caracterizada pela elevação dos níveis de pressão arterial e considerada crônica. O Ministério da Saúde estima que a hipertensão no Brasil cresceu 14,2% na última década. A SBH (Sociedade Brasileira de Hipertensão) calcula que o País possua cerca de 17 milhões de pessoas que sofrem de pressão alta.

Faz parte deste grupo de hipertensos o estudante Roger Kotsubo, 30. Há um ano ele descobriu a doença e precisou mudar a rotina. Os problemas, porém, começaram a se manifestar bem antes da maior idade. “Desde pequeno minha
pressão arterial era mais alta do que o normal. Sempre convivi bem com isso, porém em 2017 comecei a ter muitos picos de pressão e vi que era hora de procurar um médico”, conta. Entre os familiares mais próximos, o pai é o único que também sofre com a hipertensão.

Desde que foi diagnosticado, Kotsubo passou a intensificar a alimentação rica em verduras e proteínas e adotou um programa de atividades físicas entre academia e caminhadas. “Como muito mais salada e carnes magras. Cortei o
pão, bolo, doces em geral. Agora que estou voltando a comer, mas em uma quantidade muito menor do que antes. Também iniciei na academia e diariamente faço algum tipo de exercício. Recentemente comecei a correr no Lago Igapó como mais uma forma de somar”, relata.

Com duas formações, está cursando atualmente um mestrado. Por conta da exigência do estudo, busca manter um dia a dia tranquilo e com períodos para descanso. “Relaxar é importante para não desencadear o aumento da pressão. Com a rotina que levo me sinto bem, com uma vida saudável e melhor fisicamente. Quando descobri que tinha pressão alta, o colesterol também estava acima do que é recomendado e foi outra questão que consegui recuperar”, comemora.

FATORES EMOCIONAIS

No caso da comerciante Regina Célia Bérgamo Esper, a ciência de que era hipertensa veio de maneira inesperada e num momento de intensa preocupação familiar. “Estava fazendo atividade física funcional quando comecei a ter
muita dor de cabeça e enjoo. Era tão forte que parecia que teria um aneurisma. Medi a pressão e estava 18 por 10 Hg (milímetros de mercúrio). Depois disso fui atrás de cardiologista”, relembra. “Nesta época meu marido estava
internado e em coma em razão de um acidente. Os fatores emocionais, junto com a correria da rotina e o estresse, contribuíram”, acredita.

Para ela, as primeiras semanas depois da consulta foram difíceis, principalmente por conta dos medicamentos. “No início assustei, saber que ia precisar tomar remédio todos os dias e para o resto da vida não é fácil. Meu pai perdeu um rim em razão da hipertensão, pois teve o diagnóstico tardio, então foi outro fator que gerou receio. Entretanto, com o tempo fui acostumando e a medicação já faz parte das minhas práticas. Encontrar o remédio que você se
adapta e a dosagem correta são desafios”, destaca.

Consultando um cardiologista pelo menos uma vez ao ano e medindo a pressão arterial sempre que sente algum desconforto, Esper cuida das refeições, mas sem deixar de lado os produtos que gosta, como vinho. “Evito carboidrato no jantar, deixando para o fim de semana ou eventos sociais”, menciona. A comerciante ainda treina na academia duas vezes por semana e faz caminhada em outras duas.

JOVENS

O Ministério da Saúde projeta que cerca de 4% da população brasileira entre 18 e 24 anos tenham hipertensão. Hoje com 37 anos, Rodrigo Fernando Tazima teve ciência da doença quando tinha 19. “Não sentia sintoma algum. Foi durante uma consulta para outra questão de saúde, quando o médico achou que a pressão estava muito alta. Fui enquadrado como hipertenso e a partir disso tive que tomar medicação específica. Achamos que só as pessoas mais velhas podem ter a doença, mas não é bem assim. É necessário estar sempre verificando”, sugere.

Apesar da descoberta, Tazima vem conseguindo levar uma vida com a pressão controlada somente com medicamentos. “Minha pressão atualmente está equilibrada. Não aumenta, mas também não abaixa. Faço atividades físicas regularmente, mas por gostar e querer uma vida saudável. Pratico atividades não somente restrito ao motivo da hipertensão. No final acaba colaborando”, reconhece ele, que trabalha na área da tecnologia da informação.

Doença silenciosa,
mas controlável

Apesar de haver uma data dedicada ao combate à hipertensão arterial, o cuidado com a doença precisa ser constante. Cada vez acometendo mais pessoas, esta condição é, na grande maioria das vezes, silenciosa. O cardiologista Laércio
Uemura, de Londrina, sinaliza que a pressão arterial deve ser medida pelo menos uma vez por ano. No caso daqueles que têm predisposição, a verificação é necessária a cada seis meses. Ambos em consultório médico ou UBS (Unidade
Básica de Saúde), com especialista. Alguns sinais que podem aparecer, quando o aumento da pressão é repentino, são tontura, dor de cabeça, náusea, insônia e vista embaçada, diz o especialista.

Já o tratamento depende dos níveis de pressão e dos fatores de risco que o paciente pode ter. “Isso engloba o colesterol alto, diabetes, obesidade, sedentarismo ou se o paciente já teve algum problema de saúde. Quanto mais
fatores, mais a pessoa depende de medicação. A hipertensão é assintomática”, explica. “Entre 90% a 95% das vezes a hipertensão é controlada. O restante é quando existe uma causa, como alterações no rim ou hormonais. Neste caso, é chamada de hipertensão secundária”, acrescenta.

Levantamento do Ministério da Saúde mostra que a doença atinge mais mulheres (27,5%) do que homens (23,6%) e que os idosos são maiores afetados. O médico chama atenção para o aumento de jovens à procura de intervenção médica para hipertensão. “Os motivos para isso podem estar no estilo de vida, excesso de sal e sódio, rotina estressante ou estar acima do peso”, pontua Uemura, da Clínica Centro do Coração.

Caso não tratada corretamente, a hipertensão arterial pode afetar outras questões da saúde. “Ao longo do tempo vai criando doenças nos vasos sanguíneos, o que pode prejudicar o cérebro, com derrame; afeta o coração, com riscos de infarto e insuficiência cardíaca; os rins, com doenças renais crônicas; além de alterações na visão”, elenca. Pessoas com histórico na família têm mais chances de desenvolver o problema de forma hereditária.

Hipertensos têm pressão arterial acima de 14 por 9 Hg (milímetros de mercúrio). O foco na alimentação, em especial ao sal, e uma vida ativa ajudam prevenir a doença. “É necessário vigiar o sobrepeso, ter uma alimentação rica em frutas, verduras, legumes, vegetais e cerais. Consumir pouco sal e produtos industrializados. Parar de fumar, manter atividades físicas regulares, de três a cinco vezes por semana, e cuidado com a ingestão de álcool. Tudo ajuda.”

 

Pedro Marconi

Reportagem Local

Folha de Londrina

Foto: Marcos Zanutto

23/04/2018

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