Londrina – Estudo realizado na Suíça, durante a Copa do Japão e da Coreia, em 2002, já apontou: o número de mortes súbitas causadas por problemas no coração aumentou cerca de 63%. Quatro anos depois, quando o maior evento de esportivo do mundo foi realizado na Alemanha, novo alerta: os atendimentos emergenciais cardíacos aumentaram duas vezes nos hospitais no dia em que os donos da casa foram eliminados pela Itália, na semifinal daquele torneio.
Portanto, está mais que provado que é preciso ter coração forte para aguentar todas as emoções de uma Copa do Mundo. No Brasil, onde cerca de 300 mil pessoas morrem todos os anos em decorrência de problemas cardíacos, os médicos reforçam a importância de se cuidar durante os jogos. Segundo os especialistas, o risco de infartos, arritmias cardíacas e crises de hipertensão aumentam consideravelmente durante as partidas.
E o motivo principal é mesmo a emoção além do limite. “Muitas pessoas costumam se exceder, deixar se levar fortemente pela emoção do jogo. E aí, se esta pessoa já tem um problema de coração, o risco de acontecer algo se eleva”, explica o cardiologista do Centro do Coração de Londrina, Laercio Uemura. “Quando a pessoa está assistindo a um jogo, há uma maior descarga de adrenalina. A frequência cardíaca se eleva, aumentam os batimentos cardíacos e a pressão arterial se eleva. É o contrário, por exemplo, de quanto estamos vendo um filme relaxante, aí a pressão e o número de batimentos tendem a diminuir”, acrescenta o especialista.
De acordo com o médico, o alto estresse provocado pelo futebol pode desencadear problemas, como infarto, AVC (acidente vascular cerebral) e crises hipertensivas, que podem levar até a morte.
Para quem está “in loco”, o perigo é ainda maior. No jogo do último sábado, por exemplo, um torcedor que acompanhava a partida entre Brasil e Chile no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, foi ao limite da emoção e seu coração não aguentou. O carioca Jairo Ruedo Guimarães, de 69 anos, teve um infarto, chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital, no dia do seu aniversário.
Os inimigos
Uemura destaca que o maior risco é para as pessoas sedentárias, com histórico familiar de doenças cardíacas e que não fazem check-up’s regularmente. Para os cardíacos ou portadores de doenças graves vale a dica: assistir às partidas em um local mais tranquilo, aberto e sem muita gente, uma forma de evitar tensões durante os jogos.
“As pessoas mais frágeis, de maior risco podem acabar tendo um infarto. É importante ter um mínimo de autocontrole e se preparar psicologicamente tanto para a derrota quanto para a vitória”, ressalta o cardiologista.
Os famosos petiscos e as bebidas alcoólicas, que geralmente acompanham as reuniões de torcida para acompanhar os jogos, se consumidos além do limite, podem ser agravantes. “O sal e o álcool, assim como o cigarro, aumentam a pressão arterial. Importante é se hidratar bem, e para as pessoas que fazem uso de medicamentos, como anti-hipertensivos, não se esqueçam de tomá-los nos dias de jogo”, indica.
O que evitar:
Álcool
A ingestão de mais que duas latinhas de cerveja pode provocar aumento dos batimentos cardíacos e contrair as artérias, aumentando o risco de arritmia. Evite também os energéticos.
Cigarro
Provoca contração nas artérias, aumenta os batimentos do coração e a pressão arterial.
Cafeína
É estimulante, acelera os batimentos cardíacos e pode causar um aumento da pressão arterial.
Petiscos
Geralmente são muito salgados e gordurosos, o que aumenta a pressão arterial e o tempo de digestão, desgastando ainda mais o organismo.
Outros cuidados
Check-up
É o principal cuidado. Mesmo que não tenha histórico de problemas, faça um check-up antes dos jogos. Principalmente aqueles com histórico familiar de doença cardíaca ou os já portadores de cardiopatia.
Hidratação
Tome muito líquido e opte por refeições leves nos dias de jogos.
Exercício
É aconselhável fazer alguma atividade leve, antes dos jogos, para relaxar.
Calmante
Em último caso, você pode apelar para um calmante ou medicamento contra ansiedade – desde que com receita médica!
Remédios
Já tem problemas? Não deve deixar de tomar seus remédios habituais.
Fonte: Laercio Uemura, cardiologista (Londrina)