Dengue pode agravar doenças no coração
Temperatura mais elevada e maior nível de chuvas favorecem proliferação do Aedes aegypti, transmissor da enfermidade
Além de febre, dor no corpo e fraqueza, dengue também provoca aumento das enzimas hepáticas, queda de plaquetas e inflamação no músculo cardíaco
Londrina – É nesta época que os cuidados com a dengue se redobram. Afinal é no verão que a doença atinge seus maiores picos. A temperatura mais elevada, o nível de chuvas maior e o período de férias podem favorecer a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão da dengue.
E o aumento dos casos de dengue no País no verão vale também um alerta aos portadores de doenças cardiovasculares. Além do quadro clássico de febre, mal-estar, dor no corpo e fraqueza, a doença também pode provocar aumento das enzimas hepáticas, queda das plaquetas (plaquetopenia) e inflamação no músculo cardíaco (miocardite). Mas esse quadro normalmente é passageiro.
A maior preocupação dos cardiologistas, contudo, é com os portadores de doenças coronarianas que fazem uso contínuo de AAS, o ácido acetilsalicílico (aspirina) e/ou de outros antiagregantes (Clopidogrel, Ticagrelor) e anticoagulantes (portadores de próteses valvares, fibrilação atrial). Muitos diabéticos também fazem uso da aspirina para prevenir eventos cardíacos. O tema já foi inclusive tema de um Congresso Brasileiro de Cardiologia, em 2008, em São Paulo.
“Um dos efeitos do vírus da dengue é justamente atacar as plaquetas, que são responsáveis pela coagulação do sangue. A combinação de doença e remédio diminui consideravelmente o número ou a função das plaquetas e provoca sangramentos. Em casos mais raros, pode gerar a Síndrome de Reye, uma grave encefalopatia. Em ambos os casos, o não tratamento imediato pode levar à morte”, explica o cardiologista do Centro do Coração de Londrina, Laercio Uemura.
Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontam que nos últimos anos a comercialização de remédios com ácido acetilsalicílico nas fórmulas aumentou, chegando a mais de 10 milhões de unidades em 2013. A indicação cardiológica tem como objetivo “afinar” o sangue, evitando assim a formação de coágulos. Em caso de dengue, a recomendação do Ministério da Saúde é para suspender o uso de medicamentos com AAS.
“Ainda se discute muito pouco no Brasil acerca dos efeitos da dengue em pacientes com cardiopatia. Em um momento em que os casos são crescentes, torna-se preciso informar a população sobre os riscos”, defende o cardiologista.
Uemura aponta que milhares de pacientes com problemas cardiovasculares fazem uso de anticoagulantes e antiagregantes (aspirina) e essas drogas geram hemorragias sérias, quando ministrados na fase aguda da dengue. “O problema é que, sem as drogas anticoagulantes, os cardiopatas também correm riscos: podem desenvolver uma trombose e sofrer um infarto ou um derrame (AVC)”, esclarece.
Portanto há necessidade de cuidados principalmente na prevenção da dengue e, caso pacientes que façam uso de medicações para controle de doenças cardíacas tenham manifestação da dengue, a indicação é procurar um especialista para as orientações necessárias.
Reportagem Local
Folha de Londrina
28/01/2015
Foto: Shutterstock